Nunca
tinha visto Silence 4 ao vivo. Nunca pensei que iria ver. E vivia
conformadíssima com este facto. Afinal, a primeira banda de quem
gostei (de mais do que três músicas) foram os Queen, algures em
1992, e com este primeiro amor à música veio o desgosto de saber
que nunca os iria ver ao vivo. Foi uma boa escola.
Os Silence 4 entraram na minha vida no ano negro de 1998, em plena Grande Zanga. Estava a viver a minha primeira depressão (e não sabia). A Grande Zanga marcou-me profundamente. Durou de Dezembro de 1997 até Julho de 1999, com algumas pequenas pausas pelo meio. Além disso, também me deprimia o curso que (não) estava a tirar. Estava sozinha a repetir o 2º ano. Mais isolamento. Ou seja, estavam criadas as condições ideais para mergulhar completamente naquelas letras e músicas.
Na
altura, não era menina de ir a concertos. Vivia fechada em mim.
Então absorvi aquelas canções enquanto as ouvia no meu quarto, com
o livrinho das letras no meu colo. Tentei evangelizar alguns amigos,
mas sem sucesso. Ninguém gostava de ouvir.
Quando saiu o 2º álbum da banda, foi no ano 2000. A Grande Zanga já tinha terminado, o curso estava a andar bem, comecei a trabalhar num local fantástico, onde conheci excelentes pessoas, que se tornaram nos amigos que " took my hand; Helped me to lift myself again" anos mais tarde. E já tinha saído da depressão. Foi quando chegou a doença da minha mãe. E mais uma vez, a minha força foi posta à prova. Mais uma vez, mergulhei nas canções dos Silence 4. As antigas e as novas. Estas últimas mais dark, o que combinava perfeitamente com a chegada da segunda depressão (recordo que me proibi de ouvir a Take Me Away, por considerar que me levaria a resoluções drásticas; saltava sempre essa faixa. Só a ouvi no DVD do concerto de despedida no Coliseu).
A
batalha que travei ao lado da minha mãe durou 2 anos e alguns meses.
E perdemos no fim. "Everything
I believed in and everything I fought for
Was
now underneath my feet"
Estávamos
no início de 2003. Uns meses mais tarde, David Fonseca editou a solo
o Sing Me Something New. E voltei a ter a minha vida espelhada em
canções, como uma biografia não autorizada.
Isto
tudo para chegar à noite que se viveu no Pavilhão Atlântico (fuck
the name Meo Arena!), a 5 de Abril de 2014.
Por
ter uma vida complicada, não quis combinar a ida ao concerto com
ninguém. E ainda bem, pois faltaria a todos os combinanços
possíveis. E foi o melhor que podia ter acontecido.
"and
if you want to be by yourself
No
one disturbing, that's alright"
Cantei
tudo. Não ouvi os álbuns para treinar. Não os oiço há uns 5, 6
anos. Sabia tudo, sem hesitar. Não esforcei a voz, não saí do
concerto com a garganta arranhada. Era a minha vida que ali estava.
Juntou-se
tudo: os momentos da depressão; relembrar o que fiz ou onde estava
quando ouvi determinada canção; a minha mãe que ainda era viva
quando ouvi todas estas canções pela primeira vez;
-
a A Little Respect que julgava ser a original e a dos Erasure apenas
uma versão;
-
a Borrow e a estranheza que senti ao ouvir a expressão 'Put
me in your supermarket list';
-
a Don't II, a alimentar a depressão "Waves
of deception are
Breaking
my beliefs";
-
a My Friends que relata tintim por tintim todo o meu definitivo
levantar do chão em 2005 (e o carro em palco tinha de ser azul!)
"But
my friends took my hand
Helped
me to lift myself again
And
that's why I really love;
-
a To Give, que sempre me descreveu tão bem - "You're
asking again I told you before; The beautiful smile hides the
troubled soul" - e me dava aquele alento no
final (e sempre adorei a versão que o David Fonseca cantou a solo,
com a guitarra do Ricardo Fiel);
-
a Ceilings, com a sua letra estranha mas tão boa "Fields
of cotton; Flowers blossom in my hair; And there are no
brakes in this car";
-
a Angel Song, a minha número um. Aquela que me fez chorar, por mim,
pela Sofia Lisboa (este regresso associado à batalha contra o
cancro, mexeu comigo muito mais do que pensaria), pelas horas em que
a ouvi, pela presença constante em todos os concertos a solo do
David Fonseca que assisti (excepto o do Coliseu em 2013). Cantei-a
com a voz embargada, com lágrimas no rosto, enquanto me lavava a
alma pela 453ª vez;
-
a Empty Happy Song, uma das minhas preferidas do 2º álbum "Let
tears fall down your face and laugh; Don't waste your last words
on sorrow; Live like there is no tomorrow";
Não
é fácil voltar ao passado, quando o presente é tão diferente.
Apesar de estar a viver a minha terceira depressão - muito mais
ligeira e baseada apenas (espero eu) numa momentânea incapacidade de
me organizar e gerir a minha vida) -, dos tempos turbulentos que
estas canções acompanharam resta uma saudade das pessoas que
estavam comigo e já não estão, e um lamento por ter tido uma
juventude conturbada.
O
regresso fugaz dos Silence 4 veio (mais uma vez) na melhor altura.
Pode ser que me ajude a equilibrar "this
double-faced mind".
Segue
o alinhamento da noite, para mais tarde recordar:
A Little Respect
Old
Letters
Dying
Young
Borrow
Don't
II
Not
Brave Enough
Sextos
Sentidos
My
Friends
To
Give
Cry
Ceilings
Angel
Song
Empty
Happy Song
Where
are you?
Eu
Não Sei Dizer
Only
Pain is Real
Sleepwalking
Convict
Invencible
(Muse)
Self
Sufficient
Silence
Becomes it
Goodbye
Tomorrow
Search
me not
Breeders
Borrow
My
Friends
A
Little Respect
E
pronto.
Este
blogue terminou, com chave de ouro.
Foram
quase 8 anos.
Não
faz sentido mantê-lo, ou pensar que um dia vou voltar aqui.
Pode
ser que regresse com outro.
Não
volto.
Acabou.
The
end.