2013 Reading Challenge

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domingo, abril 06, 2014

"you're still around after all these years"


Nunca tinha visto Silence 4 ao vivo. Nunca pensei que iria ver. E vivia conformadíssima com este facto. Afinal, a primeira banda de quem gostei (de mais do que três músicas) foram os Queen, algures em 1992, e com este primeiro amor à música veio o desgosto de saber que nunca os iria ver ao vivo. Foi uma boa escola.

Os Silence 4 entraram na minha vida no ano negro de 1998, em plena Grande Zanga. Estava a viver a minha primeira depressão (e não sabia). A Grande Zanga marcou-me profundamente. Durou de Dezembro de 1997 até Julho de 1999, com algumas pequenas pausas pelo meio. Além disso, também me deprimia o curso que (não) estava a tirar. Estava sozinha a repetir o 2º ano. Mais isolamento. Ou seja, estavam criadas as condições ideais para mergulhar completamente naquelas letras e músicas.
Na altura, não era menina de ir a concertos. Vivia fechada em mim. Então absorvi aquelas canções enquanto as ouvia no meu quarto, com o livrinho das letras no meu colo. Tentei evangelizar alguns amigos, mas sem sucesso. Ninguém gostava de ouvir.

Quando saiu o 2º álbum da banda, foi no ano 2000. A Grande Zanga já tinha terminado, o curso estava a andar bem, comecei a trabalhar num local fantástico, onde conheci excelentes pessoas, que se tornaram nos amigos que " took my hand; Helped me to lift myself again" anos mais tarde. E já tinha saído da depressão. Foi quando chegou a doença da minha mãe. E mais uma vez, a minha força foi posta à prova. Mais uma vez, mergulhei nas canções dos Silence 4. As antigas e as novas. Estas últimas mais dark, o que combinava perfeitamente com a chegada da segunda depressão (recordo que me proibi de ouvir a Take Me Away, por considerar que me levaria a resoluções drásticas; saltava sempre essa faixa. Só a ouvi no DVD do concerto de despedida no Coliseu).
A batalha que travei ao lado da minha mãe durou 2 anos e alguns meses. E perdemos no fim. "Everything I believed in and everything I fought for
Was now underneath my feet"
Estávamos no início de 2003. Uns meses mais tarde, David Fonseca editou a solo o Sing Me Something New. E voltei a ter a minha vida espelhada em canções, como uma biografia não autorizada.
Isto tudo para chegar à noite que se viveu no Pavilhão Atlântico (fuck the name Meo Arena!), a 5 de Abril de 2014.
Por ter uma vida complicada, não quis combinar a ida ao concerto com ninguém. E ainda bem, pois faltaria a todos os combinanços possíveis. E foi o melhor que podia ter acontecido.
"and if you want to be by yourself
No one disturbing, that's alright"
Cantei tudo. Não ouvi os álbuns para treinar. Não os oiço há uns 5, 6 anos. Sabia tudo, sem hesitar. Não esforcei a voz, não saí do concerto com a garganta arranhada. Era a minha vida que ali estava. 
Juntou-se tudo: os momentos da depressão; relembrar o que fiz ou onde estava quando ouvi determinada canção; a minha mãe que ainda era viva quando ouvi todas estas canções pela primeira vez; 
- a A Little Respect que julgava ser a original e a dos Erasure apenas uma versão; 
- a Borrow e a estranheza que senti ao ouvir a expressão 'Put me in your supermarket list'; 
- a Don't II, a alimentar a depressão "Waves of deception are
Breaking my beliefs"; 
- a My Friends que relata tintim por tintim todo o meu definitivo levantar do chão em 2005 (e o carro em palco tinha de ser azul!) "But my friends took my hand
Helped me to lift myself again
And that's why I really love
- a To Give, que sempre me descreveu tão bem - "You're asking again I told you before; The beautiful smile hides the troubled soul" - e me dava aquele alento no final (e sempre adorei a versão que o David Fonseca cantou a solo, com a guitarra do Ricardo Fiel);
- a Ceilings, com a sua letra estranha mas tão boa "Fields of cotton; Flowers blossom in my hair; And there are no brakes in this car"; 
- a Angel Song, a minha número um. Aquela que me fez chorar, por mim, pela Sofia Lisboa (este regresso associado à batalha contra o cancro, mexeu comigo muito mais do que pensaria), pelas horas em que a ouvi, pela presença constante em todos os concertos a solo do David Fonseca que assisti (excepto o do Coliseu em 2013). Cantei-a com a voz embargada, com lágrimas no rosto, enquanto me lavava a alma pela 453ª vez;
- a Empty Happy Song, uma das minhas preferidas do 2º álbum "Let tears fall down your face and laugh; Don't waste your last words on sorrow; Live like there is no tomorrow";


Não é fácil voltar ao passado, quando o presente é tão diferente. Apesar de estar a viver a minha terceira depressão - muito mais ligeira e baseada apenas (espero eu) numa momentânea incapacidade de me organizar e gerir a minha vida) -, dos tempos turbulentos que estas canções acompanharam resta uma saudade das pessoas que estavam comigo e já não estão, e um lamento por ter tido uma juventude conturbada. 
O regresso fugaz dos Silence 4 veio (mais uma vez) na melhor altura. Pode ser que me ajude a equilibrar "this double-faced mind"

Segue o alinhamento da noite, para mais tarde recordar:


A Little Respect
Old Letters
Dying Young
Borrow
Don't II
Not Brave Enough
Sextos Sentidos
My Friends
To Give
Cry
Ceilings
Angel Song
Empty Happy Song
Where are you?
Eu Não Sei Dizer
Only Pain is Real
Sleepwalking Convict
Invencible (Muse)
Self Sufficient
Silence Becomes it
Goodbye Tomorrow
Search me not
Breeders
Borrow
My Friends
A Little Respect



E pronto.
Este blogue terminou, com chave de ouro. 
Foram quase 8 anos.
Não faz sentido mantê-lo, ou pensar que um dia vou voltar aqui.
Pode ser que regresse com outro.
Não volto. 
Acabou. 


The end.