É só garganta

Prémios "gasganete dourado" distinguem quem mais contribuiu para a precariedade laboral em 2008

Os supermercados Pingo Doce, o primeiro-ministro José Sócrates e a líder do PSD Manuela Ferreira Leite são alguns candidatos aos prémios "gasganete dourado", cujos vencedores serão escolhidos por votações online pelos seus contributos para a precariedade laboral em Portugal.

«Quisemos criar uma iniciativa que nomeasse e denunciasse quem mais fez para promover ou lucrar com a precariedade em 2008. Decidimos fazê-lo com humor e boa disposição e de maneira a permitir a participação de muitas pessoas», explicou à Lusa Tiago Gillot, do grupo Precários Inflexíveis, responsável pelo "concurso".

De modo a «distinguir pessoas com diferentes contributos em áreas e dimensões diversas» foram criadas cinco categorias de prémios: Acumulação; Soundbyte; Sem Vergonha; Ficção Contemporânea; Grande Prémio Precariedade.

Para o prémio "Acumulação" estão nomeados os empresários Américo Amorim, Belmiro de Azevedo, José de Mello e Soares dos Santos. «Pessoas que mais conseguem lucrar com os seus negócios, não só através da precariedade, mas também do seu favorecimento», explicou Tiago Gillot.

Já os nomeados na categoria Soundbyte, que «distingue pessoas ou instituições que tiveram uma frase lapidar naquilo que é hoje o estado da precariedade», são Francisco Van Zeller (presidente da Confederação da Indústria Portuguesa), Manuela Ferreira Leite (presidente do PSD), a cadeia de supermercados Pingo Doce e Pedro Nuno Santos (deputado do PS).

O slogan «sabe bem pagar tão pouco» valeu à cadeia de supermercados Pingo Doce a nomeação. «É uma frase que se dirige aos consumidores e é aproveitado por nós para denunciar a política de emprego da empresa», referiu.
«Se não houver precários não há nada», foi a "pérola" de Francisco Van Zeller, enquanto Manuela Ferreira Leite foi nomeada pela frase: «Temos que banir a palavra precariedade do nosso dicionário porque é tudo precário, qualquer trabalho que se arranje tem sempre essa dimensão precária».
Pedro Nuno dos Santos foi nomeado por ter dito que «os actuais falsos recibos verdes continuam falsos depois das alterações, com uma diferença, é que serão mais caros».

Na categoria Sem Vergonha estão aqueles que «pela sua actividade têm um papel descarado naquilo que é a manutenção da precariedade e sua imposição». Estão nomeados José Sócrates (primeiro-ministro) e José Vieira da Silva (ministro do Trabalho e Solidariedade Social), «que se empenharam fortemente na aprovação do novo código de trabalho que impõe precariedade para toda a gente», Francisco Pinto Balsemão (presidente do grupo de comunicação social Impresa) e Vitalino Canas (deputado do PS).

Já na categoria Ficção Contemporânea» estão nomeados os programas Novas Oportunidades e Porta 65, a Autoridade para as Condições no Trabalho (ACT) e as Actividades de Enriquecimento Curricular.
«Este prémio distingue instituições que são muito importantes e não negamos em nenhum caso a importância de existirem, mas não funcionam verdadeiramente para aquilo que são os seus objectivos», disse Tiago Gillot. «O problema no caso da ACT e do Porta 65 é claramente o facto de estarem a fazer muito mal ou muito pouco o seu trabalho, que era fundamental», especificou.

Os Precários Inflexíveis não questionam o Novas Oportunidades nem as AEC, mas «é pena que para existirem seja preciso monitores a falsos recibos verdes». Ao Grande Prémio estão nomeados todos os nomes que constam nas restantes quatro categorias. A votação está aberta até 11 de Dezembro em http://www.premiosprecariedade.net/».

A Gala de entrega dos "gasganetes dourados" decorre dia 13 no Ateneu Comercial de Lisboa. O troféu só ganha significado quando chega às mãos do vencedor. «É uma figura com a língua de fora que quem recebe tem de agarrar pelo pescoço.»

A precariedade está a estrangular-nos a vida. E quem ganhar os prémios está a estrangular a vida de algumas pessoas», referiu Tiago Gillot. Com os prémios, os Precários Inflexíveis esperam «contribuir para que os nomeados deste ano não o sejam novamente em 2009».